quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Confuso café

Café é uma coisa que me revolta. Não me entendam mal, eu adoro café, adoro os diferentes processos que podem ser seguidos para resultar numa xicarazinha de café, adoro combinações de café com leite, bebidas alcóolicas, chocolate, creme, o que seja. O que me revolta é a forma como se expõem ao público essas bebidas a base de café em cafeterias.

O espresso é uma criação italiana, sendo assim, nada mais natural do que os italianos descreverem as bebidas em sua própria língua. Aí entram os lattes, macchiatos, capuccinos, mochas, affogatos e o escambau a quatro. Com a popularização do modelo italiano de espresso pelo resto do mundo, essa terminologia criada pelos italianos também foi "importada" pelos outros países, geralmente sem que houvesse a tradução da mesma. "Afinal fica mais chique em italiano, não é?". Se fica mais chique, vende mais.

Sinceramente, quem nunca ficou confuso ao escolher um café só por um nome escrito num desses cardápios de parede ou cardápios normais sem descrição? Sou totalmente a favor de cardápios que explicam e dissecam os ingredientes e a preparação de suas bebidas, porque eu quero saber o que vou ingerindo, oras. Mesmo que isso sacrifique a beleza e brevidade de la carte.

Isso aconteceu comigo ao tomar na semana passada. Em uma lanchonete em Santos, cujo nome não citarei, aguardava minha bebida comendo um sanduíche prensado de peito de peru em pão pita (uhmm...) quando me deparo com uma xícara com uma barrinha de chocolate meio submersa em leite. Não, eu não havia pedido o famoso chocolate quente "submarino", um dos poucos com nomes em português. Eu havia pedido um affogato, preparado com uma bola de sorvete de creme sobre o qual se derrama o café espresso (também pode levar licor, raspas de chocolate e outros opcionais). A semelhança plausível entre as duas bebidas é o ato de "afogar". "Vamos afogar algo, minha gente, não quero saber se é chocolate ou sorvete, se é com leite ou café, só afoga".


Isso aconteceu comigo hoje novamente em outro café, em outra cidade. Peço um afogatto pequeno em São Paulo City e eis que surge perante meus olhos um líquido gelado. Sequer havia um elemento para se afogar; era um café com leite gelado servido na taça com calda de chocolate e finalizado com chantilly. Estava uma delícia, assim como o submarino que mencionei, e não é por causa desses errinhos técnicos que vou deixar de frequentar esses locais. O problema é que se está esperando receber algo diferente e isso pode levar muitos clientes ingênuos a acreditarem no que lhes é apresentado e causar problemas quando pedirem a mesma bebida em outro café.


Continuarei minha busca pelo affogato tradicional nesses cafés medianos (sei que nos chiques vou encontrá-lo, essa não é a questão). Não pretendo nem começar a falar sobre capuccinos nesses estabelecimentos, só de pensar naquela mistura de leite e chocolate em pó, puro açúcar, sendo servida como capuccino já me ferve o sangue. De qualquer forma, fica aqui uma notícia relacionada sobre a loja de departamento britânica Debenhams que possivelmente encontrou a solução para os nossos problemas.


Em vez de metralhá-los com termos estrangeiros, eles facilitaram a escolha da bebida para os consumidores . O seu novo cardápio traz opções como "frothy coffee" (café com espuma de leite, a.k.a. capuccino), "really really milky coffee" (café com muito muito leite, a.k.a. latte), "chocolate flavoured coffee" (café com sabor de chocolate, a.k.a. mocha) e "simple coffee, with or without milk" (café simples, com ou sem leite, a.k.a. espresso). Além disso, nada de tamanhos de copos confusos (tall, grande ou venti) de redes como o Starbucks. Os clientes escolhem entre uma xícara ou uma caneca da bebida. Simples assim.


Atualmente, esse novo modelo de cardápio que faz parte da "Plain English Campaign" (algo como "campanha do bom e velho inglês") só está disponível na loja de Oxford Street em Londres, ainda sob fase de teste. O fundador ufanista dessa campanha, Chrissie Maher, revelou ao jornal Daily Mirror: "Seja chá ou café, precisa estar em inglês.... Se os clientes conseguem ler o cardápio com clareza, é maior a probalidade de experimentarem algo diferente e voltarem para tomar mais". Em um comunicado à imprensa, a rede de lojas declarou que, segundo as suas pesquisas, "mais de 70% dos bebedores de café já sofreram de 'confusão de café'". Confira uma notícia do Eater National e o comunicado completo do Debenhams.

Portanto, a partir de agora, encontra-se instituída por meio deste instrumento a campanha "Café em Bom Português". Convido-vos, proprietários de cafeterias, cafés, lanchonetes, padarias, restaurantes e quaisquer outros estabelecimentos nacionais que vendam bebidas à base de café, operacionais atual ou futuramente, a, inspirando-se nas ideias de nosso querido nacionalista Policarpo Quaresma, adaptarem seus cardápios e menus à língua portuguesa do Brasil a fim de evitar confusões, constrangimentos e reclamações referentes à terminologia de tais bebidas.

P.S.: Embora eu defenda o português, eu uso termos estrangeiros quando escrevo. Não vejo problema algum e não sinto que estou me autocontrariando. A questão é que meu público jovem entende as minhas parcas referências (pelo menos espero que sim), já as cafeterias por natureza têm de ser mais abrangentes em seu público-alvo e não deveriam, pois, restringir-se com o emprego de termo estrangeiros obscuros. Pronto, falei.

Um guia útil para sanar as dúvidas:


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